drpaulocesarpalestrante

Thursday, March 23, 2006

cuidado com as lamurias!

“Da avaliação dos obstáculos vem o fracasso, da avaliação dos meios nasce o sucesso”.
Tantra hindu (século VII)
Estamos no inicio de ano , devemos nos cuidar para não estacionarmos nas reclamações e lamurias que só geram imobilismo, cristalização e inércia.
Mas o que vem a ser a lamuria?
É uma espécie de lengalenga e choradeira das desgraças que uma pessoa faz de si ou de uma outra, objetivando alcançar o que se deseja, especialmente manipular e controlar o outro. Devemos ,portanto, cuidar ao constatarmos uma pessoa com esse perfil, evitando considera-la portadora de uma maldade sem fim .Ela pode ser estar necessitando de cuidados psicológicos e até psiquiátricos. O mal da lamuria se instala, quando a usamos instrumentalmente para enfrentarmos os obstáculos da vida ou quando não conseguimos alcançar os intentos desejados.
A lamuria impede que as ações sejam efetivas na resolução de problemas do cotidiano, provocando até mesmo a paralisação do indivíduo que utiliza tal subterfúgio. Nos casos que atendo em meu consultório, sempre diferencio o lamento paralisante e instrumental do lamento normal vivido pelas pessoas que tiveram perdas reais ou simbólicas. O primeiro caso é patológico, o outro é saudável, desde que não se cristalize , é normalmente entendido e tratado como luto. Cada um deles merece um tratamento diferenciado.
O termo lamúria vem do latim “lemuria orium”, que significa “lêmures” , ou seja, alma de outro mundo. Na antiguidade as festas em honra aos lêmures eram celebradas com lamentações .
A resignação lamurienta impede a revolta salutar, uma emoção que pode levar à mudança, ao contrário da submissão e o conformismo culposo que paralisa o individuo . O fato de se repetir constantemente o sofrimento é uma conduta “mórbida”, na medida em que o sofrimento resignado, passivo ou sem reflexão não tira a pessoa do lugar. As culpas necessitadas de expiação são falsamente aliviadas por esse lamento constante dos sofrimentos do passado, aí não se vislumbra nada de novo, havendo apenas um movimento de passado para o presente, excluindo a perspectiva futura, a utopia e a esperança de transformação.
Uma forma bastante comum de exercitarmos a lamúria é através das “ladainhas ou litanias”, tão comuns quando queremos justificar um fracasso e ai partimos para enumeração de diferentes motivos, cada um mais lamuriante do que o outro. Após uma lengalenga obtemos um certo alívio imediato, que nos ilude e nos anestesiam naquele momento apenas, como uma trégua, deixando sempre uma dor ainda maior de nada termos feitos para sair daquela situação. O ouvinte fica , então, com uma sensação de impotência e acaba se afastando do lamuriento por considera-lo um chato.
O lamuriento acusa isso, ou aquilo, calunia e difama os outros e a ele mesmo e, no entanto nada faz de concreto para mudar. Em síntese a lamuria é um rosário de queixas chorosas, reclamações e “ais” repetitivos que vão minando e entorpecendo tanto o que lamuria como com quem convive, tornando o clima relacional insuportável, pois conviver com uma pessoa lamurienta é uma verdadeira tragédia.
O tratamento da pessoa lamurienta é árduo, pois muitas vezes ela só procura o medico em seu consultório para se lamentar ,deseja apenas que ele seja mais um ouvido passivo .A pessoa lamurienta se sente abandonada e solitária e reclama que ninguém mais suporta ouvi-la e deseja que o médico atenda a esta triste e impossível demanda .Estrategicamente na Psicoterapia ,conduzimos a pessoa para que se descubra como um Ser de realização ao invés de ficar usando da estratégia de acusar o outro e a si mesmo ,das suas paralisações e possa assim caminhar com as suas próprias pernas .Na maioria dos casos , a medicação apropriada é indicada , pois freqüentemente trata-se de transtorno depressivo , T.O.C (transtorno obsessivo compulsivo) ou outro ainda mais complicado , para se saber ao certo é necessário a avaliação de um Psiquiatra .

Dr Paulo César de Souza é Medico Psiquiatra, Palestrante em escolas e empresas.
drpaulocesar@brfree.com.br

Sunday, March 19, 2006

Autonomia nos relacionamentos.

Hoje as pessoas não vêem mais sentido em suportar convivências desagradáveis por dever e sem autonomia .A felicidade só é possível quando se constroem relacionamentos autônomos. É pelos encontros , desencontros e até pelas desistências das relações que cultivamos em nossa vida, que vamos atingir a maturidade.Cada vez mais as pessoas descobrem que precisam adotar uma maneira de se relacionar de forma livre e fluída.O modelo de dependência do passado está falido. Viver para controlar o outro é muito desgastante.
O mundo atual exige que sejamos autônomos e capazes de administrar nossa vida. No trabalho , é preciso que os relacionamentos estimulem as pessoas a desenvolverem suas capacidades. É tanto trabalho, são tantas mudanças, que ninguém tem mais tempo de controlar os outros. Nem o chefe tem tempo de verificar se a secretária fez o que combinaram nem ela tem tempo de mimá-lo. São duas pessoas autônomas que trabalham juntas com objetivos de construir o sucesso da empresa.
Os casais começam a perceber que precisam se dar as mãos e trabalhar juntos pelos mesmos objetivos. A mulher está saindo de casa para se realizar como pessoa e participar da construção do orçamento familiar. Os homens estão se dando conta de que seu papel já não é unicamente o de provedor, mesmo porque cada vez mais as mulheres recebem bons salários e, cada vez mais, salários superiores ao do companheiro. É preciso conceber uma nova forma de relacionamento,
mais amigo e cooperativo, em que ambos sejam felizes para pensar, sentir e agir.
O modelos tradicionais do pai que cuida para que a filha não se perca no mundo e da mãe de antigamente que fazia a lição de casa para o filho já não são paradigmas efetivos. Os pais querem descobrir uma maneira de formar filhos mais autônomos. Percebem que criar filhos dependentes é um erro brutal. Primeiro porque se sentem sobrecarregados com a pressão do trabalho e segundo porque querem formar pessoas bem-sucedidas capazes de decidir sobre a própria vida. Os pais percebem que, nas empresas, os profissionais submissos cada vez mais cedem seus postos a outros com mais iniciativa e um diferencial de atuação.
Conhecer –se bem para construir relacionamentos mais plenos e autônomos é o mais importante na atualidade frente aos desafios de um mundo cada vez mais competitivo .Educar para autonomia é estimular nas crianças ampliação do espaço vital , a começar nas tarefas de casa onde pode-se ensinar desde o preparo de um lanche, até o cuidado do quarto, da cama e dos seus objetos .ensina-los a lidar com dinheiro respeitosamente sem consumismo é de suma importância. Recentemente saímos de férias e dei ao meu filho de dez anos uma pequena caderneta para que anotasse diariamente e contabilizasse os gastos durante todo o percurso da viagem , foi um sucesso ,comparou preços de hotéis restaurantes e para meu contentamento ,atualmente, ele está muito mais criterioso e menos exigente economicamente e até me ajuda na hora das compras, procurando produtos mais em conta.
Dr Paulo César de Souza.
Psiquiatra e palestrante.
drpaulocesar@brfree.com.br