drpaulocesarpalestrante

Saturday, September 09, 2006

“Engolir sapos” pode não ser tão ruim assim...

Sempre gostei dos sapos desde criança , tenho curiosidade pela vida dupla desses animais. São chamados anfíbios porque enquanto larvas vivem na água (girinos) e quando adultos em terra. Tive grande satisfação em visitar o Museu Melo Leitão em Santa Tereza, fundado por Dr Augusto Ruschi, ao Norte do Espírito Santo, lá pude conhecer ,dentre outras espécies, uma vasta coleção de anfíbios e também de beija flores , outro animal de notáveis curiosidades. Dr Augusto Ruschi , já falecido , foi àquele especialista em anfíbios e apaixonado por beija-flores , que após se envenenar por sapos na Amazônia á procura de espécies desconhecidas ,foi curado do veneno através de uma pajelança de índios .Gosto muito das “serenatas” noturnas dos sapos e rãs quando durmo na roça e gosto de ver as larvas (girinos) nos córregos limpos .De maneira em geral , os locais em que vive muito sapo são preservados e livres de poluição . O governo alemão está gastando 225 mil euros num túnel destinado a salvar sapos de atropelamentos em uma rua movimentada de Berlim. O projeto vai permitir que espécies nativas de sapos, rãs e outros anfíbios atravessem com segurança uma avenida do bairro de Reinickendorf para alcançar um lago das redondezas. O túnel ficará pronto na primavera européia, época da desova dos anfíbios.
Infelizmente em nosso meio, os sapos não gozam de boa fama .No capítulo oitavo do livro de Êxodo , Deus, para domar a tenacidade do faraó egípcio que não queria deixar que o povo de Israel se fosse, enviou-lhe uma série de pragas de horrores, uma delas a das rãs . Diz o texto "Eis que castigarei com rãs todos os teus territórios, o rio produzirá rãs em abundância que subirão e entrarão em tua casa, no teu quarto de dormir, e sobre o teu leito, e nas casas dos teus oficiais, e sobre o teu povo, e nos teus fornos e nas tuas amassadeiras." Já imaginaram o horror? Essa ojeriza que grande parte das pessoas tem pelas rãs ou sapos vem de longa data ...
Já vi muita criança e até adultos apedrejando sapos por aí...
Parece que essa “praga” dos sapos , continua ,alegoricamente, nos ambientes que ainda não alcançaram níveis democráticos satisfatórios. Nas empresas , na família e outros espaços de convivência costumamos dizer que “engolimos sapos” .Engolir é comer. O ato de comer é presidido pelo paladar. Sendo esta uma função que separa o saboroso do não saboroso. O primeiro é para ser engolido com prazer. O segundo o corpo se recusa a comer. Cospe. "Ter de engolir sapo" é ser forçado a colocar dentro do corpo aquilo que é nojento, repulsivo e viscoso. É quando não temos o direito, o espaço, a liberdade ou a coragem de responder à altura um insulto, uma humilhação, uma acusação, uma ironia. O que mais dói é a afronta e a falta de respeito, o desprezo do outro que atinge gravemente a nossa dignidade, integridade e honra ,e ainda sem podermos dar o troco devido . Ninguém “engole sapo” por livre vontade. Engole porque não tem outro jeito. Tem sempre alguém que nos obriga fazê-lo à força.
No trabalho, quase sempre temos de “engolir sapos” para assim segurar o emprego frente a um chefe dominador e para não abrir conflitos indesejáveis. Enfatizamos, porém, que lidar com as emoções, não significa reprimi-las – e muito menos negá-las, mas sim, "saber" exprimi-las no momento oportuno, com as pessoas certas, e para isto, algumas vezes, ter de "engolir sapos" temporariamente.
Para isto precisa se aprender a desenvolver barreiras emocionais contra “sapos” e assim criar uma via de acesso entre seu ouvido direito e o esquerdo .Em outras palavras seria você deixar o “sapo” entrar por um ouvido e sair pelo outro, sem degluti-lo e sobretudo não deixar que o sapo vá parar no seu coração. Para isto basta uma porção de compreensão, outra de tolerância, mais uma de compaixão, uma pitada de paciência , afeto , muita ginga , jogo de cintura e bom humor à vontade. sobre inteligência emocional mostram que pessoas que reagem positivamente a estímulos desagradáveis vão mais longe. “Engolir sapos” é uma contingência da vida social, todos têm que suportar vez ou outra algo desagradável para manter uma boa relação com um amigo,vizinho, adversário, cliente, chefe,marido, esposa, e outros.
A vida fica melhor com pessoas mais tolerantes, pois com elas o sapo desce “redondo”. “Engolir sapos” não é o fim do mundo .Admirar e procurar conhecer os anfíbios e defendê-los dos apedrejadores é um caminho interessante para desmistificar e deixar de ter preconceito com os batráquios.
Agora tem uma coisa : não devemos engolir sapos de filhos,nem fazê-los engoli-los de volta .Nunca ... para isto é necessário conversar, conversar , conversar...
drpaulocesar@click21.com.br , Psiquiatra e Palestrante em escolas e empresas

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