drpaulocesarpalestrante

Thursday, April 27, 2006

Filhos problemas ou merecedores de atenção?

Em meu consultório recebo pais desesperados na busca da solução de supostos “problemas com os filhos”.A maioria sente se perdido e sem autoridade para lidar com estes e, portanto, querem soluções rápidas, de preferência sem envolvê-los emocionalmente. Os pais desculpam -se com argumentos “reais” e “imaginosos” de falta de tempo, atribulações, estresse, trabalho excessivo ou que já não sabem mais o que fazer para solucionar esses problemas. Por isso tudo ,querem uma solução através de uma ajuda profissional.As queixas dos pais se referem à falta de limites na convivência, fracassos escolares, consumismo, baixo nível interativo nas relações familiares, desorganização em casa, rivalidades entre irmãos e até uso e abuso de álcool e drogas.
Tento inicialmente fazê-los entender o conceito de problema, ou seja, procuro saber porque eles acham que o filho é problema. Daí dá inicio a uma estratégia visando a ajuda-los a abrandarem os sentimentos culposos e raivosos e assim assumirem a responsabilidade e a se colocarem frente à verdade do relacionamento com os seus filhos.Essa tarefa é árdua, pois relutam em aceitar a realidade dos fatos e como pais, estão repletos de culpa, começam a se digladiarem e a se culparem mutuamente e por conseqüência estancam e acabam não avançando na compreensão dos motivos daquilo que consideram problema a ser solucionado.
Mostro-lhes que problema é substantivo masculino, que significa obstáculo, contratempo,dificuldade que desafia a capacidade de solucionar de alguém.Pode ser também uma situação difícil e conflituosa ,sem solução imediata.Em psiquiatria define-se como disfunção orgânica ou psíquica.Costumeiramente em linguagem do senso comum, podemos definir como problema uma coisa ou situação incômoda, preocupante, fora de controle.Por fim a visão matemática de problema que é a tarefa de calcular uma ou várias quantidades desconhecidas, denominadas incógnitas, relacionadas a outras conhecidas, os dados.Podemos constatar que, problema é algo que carece de solução, é processo a ser resolvido dentro de um limite temporal. Pensar as questões relativas às dificuldades inerentes ao relacionamento com os filhos como sendo problemas a serem resolvidos em determinado tempo, torna-se insuficiente.
Vejamos então, como alternativa, um conceito que possa fazer frente à realidade em questão, de forma mais completa e suficiente: que é o conceito de atenção.Atenção é substantivo feminino que corresponde à ação de fixar o espírito em algo; concentração da atividade mental sobre um objeto determinado.Em psiquiatria , define-se como o estado de vigília e de tensão que forma a base da orientação seletiva da percepção, do pensamento e da ação, sendo uma função psicológica indissociável da consciência.É concessão de cuidados, gentilezas, obséquios etc. É ainda o ato ou efeito de se ocupar de (alguém ou algo); cuidado, zelo, dedicação.Como o relacionamento com os filhos se situa muitas vezes fora de limites temporais, este conceito se aplica melhor , pois ao invés de resolver os problemas e assim ficarmos livres deles , daremos a tenção e ficaremos livre para eles.
Ao considerarmos os filhos como problemas a serem resolvidos, nossa ação estará focada em qualquer que seja a quantidade de racionalidade a ser gasta na resolução destes problemas, seja ela a de acreditarmos que teremos a solução desses problemas ou que alguém os resolverá para nós e, portanto estaremos fadados a cair sempre num vão de insuficiências ,sejam nossas ou dos outros _escolas, professores, médicos, terapeutas, babás etc. Sentiremos incapacitados e impotentes para tantos cálculos e insucessos.Então melhor seria ao invés de considerarmos nossos filhos como problemas, vê-los como dignos de atenção, necessitados de monitoramento, zelo, cuidados, diálogos incessantes e dedicação constante. E assim será enquanto estivermos vivos e eles também ,sendo essas as funções maiores da maternidade e da paternidade.
Dr Paulo César de Souza.
Psiquiatra e palestrante,
Drpaulocesar@brfree.com.br

1 Comments:

Blogger drpaulocesarpalestrante said...

gostei muito do texto...

3:43 PM  

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