Filhos problemas ou merecedores de atenção?
Em meu consultório recebo pais desesperados na busca da solução de supostos “problemas com os filhos”.A maioria sente se perdido e sem autoridade para lidar com estes e, portanto, querem soluções rápidas, de preferência sem envolvê-los emocionalmente. Os pais desculpam -se com argumentos “reais” e “imaginosos” de falta de tempo, atribulações, estresse, trabalho excessivo ou que já não sabem mais o que fazer para solucionar esses problemas. Por isso tudo ,querem uma solução através de uma ajuda profissional.As queixas dos pais se referem à falta de limites na convivência, fracassos escolares, consumismo, baixo nível interativo nas relações familiares, desorganização em casa, rivalidades entre irmãos e até uso e abuso de álcool e drogas.
Tento inicialmente fazê-los entender o conceito de problema, ou seja, procuro saber porque eles acham que o filho é problema. Daí dá inicio a uma estratégia visando a ajuda-los a abrandarem os sentimentos culposos e raivosos e assim assumirem a responsabilidade e a se colocarem frente à verdade do relacionamento com os seus filhos.Essa tarefa é árdua, pois relutam em aceitar a realidade dos fatos e como pais, estão repletos de culpa, começam a se digladiarem e a se culparem mutuamente e por conseqüência estancam e acabam não avançando na compreensão dos motivos daquilo que consideram problema a ser solucionado.
Mostro-lhes que problema é substantivo masculino, que significa obstáculo, contratempo,dificuldade que desafia a capacidade de solucionar de alguém.Pode ser também uma situação difícil e conflituosa ,sem solução imediata.Em psiquiatria define-se como disfunção orgânica ou psíquica.Costumeiramente em linguagem do senso comum, podemos definir como problema uma coisa ou situação incômoda, preocupante, fora de controle.Por fim a visão matemática de problema que é a tarefa de calcular uma ou várias quantidades desconhecidas, denominadas incógnitas, relacionadas a outras conhecidas, os dados.Podemos constatar que, problema é algo que carece de solução, é processo a ser resolvido dentro de um limite temporal. Pensar as questões relativas às dificuldades inerentes ao relacionamento com os filhos como sendo problemas a serem resolvidos em determinado tempo, torna-se insuficiente.
Vejamos então, como alternativa, um conceito que possa fazer frente à realidade em questão, de forma mais completa e suficiente: que é o conceito de atenção.Atenção é substantivo feminino que corresponde à ação de fixar o espírito em algo; concentração da atividade mental sobre um objeto determinado.Em psiquiatria , define-se como o estado de vigília e de tensão que forma a base da orientação seletiva da percepção, do pensamento e da ação, sendo uma função psicológica indissociável da consciência.É concessão de cuidados, gentilezas, obséquios etc. É ainda o ato ou efeito de se ocupar de (alguém ou algo); cuidado, zelo, dedicação.Como o relacionamento com os filhos se situa muitas vezes fora de limites temporais, este conceito se aplica melhor , pois ao invés de resolver os problemas e assim ficarmos livres deles , daremos a tenção e ficaremos livre para eles.
Ao considerarmos os filhos como problemas a serem resolvidos, nossa ação estará focada em qualquer que seja a quantidade de racionalidade a ser gasta na resolução destes problemas, seja ela a de acreditarmos que teremos a solução desses problemas ou que alguém os resolverá para nós e, portanto estaremos fadados a cair sempre num vão de insuficiências ,sejam nossas ou dos outros _escolas, professores, médicos, terapeutas, babás etc. Sentiremos incapacitados e impotentes para tantos cálculos e insucessos.Então melhor seria ao invés de considerarmos nossos filhos como problemas, vê-los como dignos de atenção, necessitados de monitoramento, zelo, cuidados, diálogos incessantes e dedicação constante. E assim será enquanto estivermos vivos e eles também ,sendo essas as funções maiores da maternidade e da paternidade.
Dr Paulo César de Souza.
Psiquiatra e palestrante,
Drpaulocesar@brfree.com.br
1 Comments:
gostei muito do texto...
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